Vianna de Carvalho

 
  

Vianna de CarvalhoNascido na cidade de Icó, Estado do Ceará, aos 10 de dezembro de 1874, era filho do professor Tomás Antônio de Carvalho e de D. Josefa Viana de Carvalho. Desencarnou a bordo do navio “Íris”, sendo o seu corpo sepultado na Bahia, aparentemente em Salvador. Era o dia 13 de outubro de 1926.

Numa época quando a divulgação da Doutrina Espírita ensaiava os seus primeiros passos e encontrava pela frente a mais obstinada oposição, o Major Dr. Manuel Viana de Carvalho, com pulso firme e animado do mais vivo idealismo, desbravava o terreno para nele lançar a semente generosa da propaganda.

Como espírita foi dos mau animosos. 0 seu nome representou verdadeira bandeira no campo da disseminação do Espiritismo. 0 que ele fez, em vários anos de luta e de atividades intensíssimas, é algo que ainda não se pode colocar em dados estatísticos, tal o gigantismo da tarefa por ele desenvolvida em todo o país.

A sua palavra era atraente e arrebatadora, conseguindo, entre os espíritas uma penetração inusitada e inconfundível. Como conferencista era dos mais requisitados; como polemista, um dos mais salientes. Seu verbo inspirado, sua voz harmoniosa, sua animação, assumiam, às vezes, tonalidades e aspectos impressionantes. Foi na realidade um mágico da palavra, esteta do sentimento.

Viana de Carvalho fez os primeiros estudos de Humanidades no Liceu de Fortaleza. Posteriormente, em 1891, matriculou- se na extinta Escola Militar do Ceará, onde mereceu classificação de destaque pelo seu comportamento e merecimentos intelectuais.

Embora desde 1891 tivesse dado início à sua gigantesca tarefa de divulgação do Espiritismo, ela somente tomou vulto após ter- se matriculado no curso superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, em 11 de fevereiro de 1895.

Nessa época funcionava no Rio de Janeiro o “Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil”. Integrando- se nesse grupo, Viana de Carvalho passou a proferir conferências que conseguiam atrair compactos auditórios de mais de 500 pessoas. No ano de 1896 foi transferido para Porto Alegre, como aluno da Escola Militar que ali funcionava.

Naquela capital sulina o Espiritismo já era difundido por alguns pioneiros, dentre eles Joaquim Xavier Carneiro, dirigente do Grupo Espírita Allan Kardec, que dada a sua austeridade de costumes e práticas humanitárias exercia enorme influência. De posse de uma lista com nome e endereço de simpatizantes do Espiritismo, Viana de Carvalho conseguiu reunir todos numa casa abandonada, desprovida de mesas e cadeiras. De pé, os freqüentadores das reuniões ouviam, com verdadeiro enlevo, o seu verbo inflamado. Posteriormente conseguiu formar um núcleo de estudos que passou a funcionar no andar térreo de uma casa no centro da cidade.

Em 1898 publicou a sua primeira produção literária “Facetas”, contos e fantasias. Em seguida publicou “Coloridos e Modulações”. Nesse mesmo ano foi transferido para o Rio de Janeiro, onde recomeçou as preleções no Centro da União Espírita e em outros grupos, participando de um congresso e encetando numerosas viagens ao interior do Estado do Rio de Janeiro.

Transferido para Cuiabá, Mato Grosso, ali fundou o Centro Espírita Cuiabano. Em 1907, regressou ao Rio de Janeiro a fim de matricular- se no curso de engenharia da Escola do Realengo, tornando- se o orador oficial da Federação Espírita Brasileira, realizando ainda viagens aos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Foi ainda colaborador assíduo da revista “Reformador”.

Após concluir o curso de engenharia militar, rumou para Fortaleza, Estado do Ceará, em abril de 1910. Ali iniciou uma série de conferências espíritas na Loja Maçônica e, no dia 10 de junho, fundou o Centro Espírita Cearense. Não satisfeito com as atividades desenvolvidas, criou ainda os jornais “Combate” e “Lábaro”, o primeiro destinado a contestar os argumentos do clero católico, que nessa época desencadeava uma campanha difamatória contra o Espiritismo, através do órgão “Cruzeiro do Sul”; a segunda publicação destinada a difundir o Espiritismo. Através dos jornais “O Unitário”, “A República” e “Jornal do Ceará”, manteve vivas polêmicas, refutando argumentos infundados sobre o Espiritismo. Suas atividades em Fortaleza perduraram até novembro de 1911, quando, por imposição do serviço militar foi transferido para Curitiba, no Paraná, onde sustentou o mesmo nível de atividades, publicando artigos diários no “Diário da Manhã”.

De volta ao Rio de Janeiro, em 1912, deu início a um persistente trabalho de unificação dos grupos espíritas, do qual resultou a fundação posterior da “União Espírita Suburbana”, sob a presidência de Manuel Fernandes Figueira. Em princípios de 1913, foi servir em Maceió, onde proferiu numerosas conferências e encetou verdadeira jornada no sentido de reorganizar os grupos espíritas dispersos ou com falta de orientação.

Pouco depois era transferido para Recife, Pernambuco, onde deu prosseguimento à sua tarefa de divulgação, publicando numerosos trabalhos, fazendo conferências e mantendo polêmicas que abalaram os meios religiosos da cidade. Regressando ao Rio de Janeiro, Viana de Carvalho retomou a pregação da Doutrina Espírita nos subúrbios, o que fez de 1914 a 1916, quando foi transferido para Santa Maria da Boca do Monte, no Estado do Rio Grande do Su1. Ali também teve a oportunidade de reorganizar e fundar vários grupos espíritas e de realizar conferências que foram publicadas no “Diário do Interior”, e posteriormente em outros órgãos da imprensa gaúcha.

Em 1917, de novo no Rio de Janeiro, ali desenvolveu intensa campanha contra as fraudes e trapaças dos pseudos- espíritas. No ano seguinte voltou para Santa Maria da Boca do Monte, em comissão do Governo Federal, junto à 9a. Brigada de Infantaria, desenvolvendo durante quinze meses intensa difusão do Espiritismo.

Em 1919, novamente em Maceió, foi surpreendido com as atividades dos detratores do Espiritismo, os quais tentaram proibir- lhe as palestras e até mesmo expulsá- lo. Sem esmorecimentos travou intensos debates pela imprensa e pela tribuna, sustentando acirradas polêmicas, tendo, nessa altura, os seus opositores pleiteado, no Rio de Janeiro, a sua transferência, tendo ele sido removido para o Estado do Paraná, em meados desse mesmo ano.

Em Curitiba realizou conferências no Teatro Alemão, na sede da Federação Espírita do Paraná e em outras instituições. Através do “Diário da Tarde” publicou uma série de artigos doutrinários que tiveram muita penetração.

Da capital paranaense veio para S. Paulo, onde proferiu várias palestras, muitas delas com o comparecimento de mais de mil pessoas. Em 1920 voltou novamente ao Rio de Janeiro, de onde partia para proferir conferências em cidades vizinhas.

Em 1923, seguiu para Recife, reorganizando os Centros Espíritas ali existentes, mantendo novas polêmicas com detratores do Espiritismo. Posteriormente rumou para o Ceará e daí para Sergipe, onde fora designado para o comando do 28.o. B.C., em 1924. Nesse Estado as suas atividades também foram amplas.

Em 1926, adoeceu gravemente, ficando decidido o seu recolhimento ao Hospital de S. Sebastião, em Salvador. Suas forças estavam periclitantes. Conduzido ao navio “Íris”, por colegas oficiais e soldados, não conseguiu entretanto chegar ao destino, pois, na altura de Amaralina, desencarnou a bordo, sendo seu corpo dado à sepultura na Bahia.

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